Segurança do trabalho em obras é desafio do setor da construção civil

12 jul Segurança do trabalho em obras é desafio do setor da construção civil

Apesar do crescimento exponencial e da importância para a economia, o setor vem enfrentando graves problemas na questão da segurança, com altos números de acidentes

A construção civil cresce exponencialmente em todo o país, inclusive na região de Sorocaba, onde o crescimento registrado é maior do que toda a média do estado de São Paulo, segundo a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba (AEAS). No entanto, por outro lado, quando observamos sob a ótica da segurança do trabalho, o caminho é oposto.

O setor que gerou mais de 430 mil vagas de trabalho com carteira assinada entre 2020 e 2022, sendo responsável por 50% dos investimentos realizados na economia nacional, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), é o mesmo que apresenta dados alarmantes sobre a segurança nos canteiros de obras.

“O setor da construção civil está aquém do setor industrial, quando se pensa em segurança. Hoje, é muito comum, dentro de uma obra, a presença de profissionais da construtora e, também, de terceirizados e até quarteirizados atuando na cadeia de fornecimento de mão de obra. Esses profissionais precisam ser capacitados, tanto quanto os profissionais contratados pela construtora. Este é um ponto de extrema importância”, ressalta Almir Buganza, perito judicial associado à AEAS e inspetor-chefe do CREA Sorocaba.

E a questão da segurança dentro das obras é um dos grandes desafios do setor, haja vista o crescente número de acidentes, muitos fatais, ocorridos nos últimos meses na cidade de Sorocaba. Com o crescimento exponencial do setor, o mercado enfrenta escassez de mão de obra capacitada.

“Desta forma, passamos a ter profissionais sem muita capacitação e experiência nos canteiros, trazendo outro agravante: a cultura sobre a segurança do trabalho destes subcontratados, na maioria das vezes, é menor. Muitas das pequenas empresas são compostas de pais, filhos, cunhados e outros agregados. Poucas delas conseguem atender as exigências legais e se capacitarem, buscando programas de conscientização para seus funcionários”, alerta o perito.

Capacitação de toda a cadeia

O ponto primordial para a mudança deste cenário, ressalta Buganza, é a capacitação de toda a cadeia envolvida em uma obra. “É necessário ter a mesma exigência em relação aos documentos e ao cumprimento das obrigações legais de todos os envolvidos na cadeia. Precisamos de gestões ativas e presentes dentro das obras, cobrando dos terceirizados e quarteirizados com a mesma postura dos profissionais contratados pelas construtoras”.

Dentro de uma obra, explica Buganza, existem diversos setores, como elétrico e civil, e ter um profissional habilitado responsável por cada um destes setores é extremamente importante pois, em uma situação de emergência, será possível avaliar se houve algum tipo de falha, omissão, negligência ou imperícia. “Este profissional vai trabalhar o ambiente para que esse tipo de acidente não ocorra ou, até mesmo, reduzir a probabilidade de ocorrência”, alerta.

Conscientização sobre segurança

“Em primeiro lugar, nós temos que pensar na questão da conscientização dos profissionais. Ela precisa acontecer de uma forma intensa. E, como eu conscientizo? Treinando, fiscalizando, cobrando, tendo gestão e acompanhamento. Dessa forma, nós vamos conseguir melhorar a consciência ou a postura das pessoas envolvidas em uma obra”, frisa Buganza.

Outro ponto importante apontado pelo perito é o investimento em segurança dentro das obras. “Tenho visto várias construtoras preocupadas com esta questão, mas a grande maioria ainda não está. Precisamos deixar o pensamento do mais barato, porque muitas vezes o mais barato é um ‘control c + control v’ de outros documentos feitos pelo próprio profissional habilitado”, pontua.

A questão dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) também é um problema apontado por Buganza. Segundo ele, falta treinamento e conscientização sobre a importância do uso correto dos equipamentos. “Entrega-se o EPI pelo fato de se cumprir uma obrigação legal estabelecida pela Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego, que é a NR 6, mas, se as pessoas não se conscientizarem sobre o uso correto, não haverá êxito. Não são EPIs que salvam vidas e sim o comportamento. Este é o grande investimento a ser realizado pelas empresas”.

As construtoras de Sorocaba têm um grande parceiro em treinamentos e informação, que é pouco explorado e que pode contribuir com este desenvolvimento. A Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba (AEAS) tem isto como missão e, com o apoio do CREA-SP e da Mutua, a associação consegue oferecer para o mercado este tipo de serviço, visando a conscientização sobre a segurança.

“Mas, precisamos ter demandas, as construtoras precisam incentivar a participação de seus funcionários e subcontratados. Se isto não for incentivado, iremos continuar com este aumento no número de acidentes na construção civil. Os EPIs ajudam na prevenção de acidentes, mas a conscientização é o grande pilar da segurança no trabalho”, finaliza.

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