23 fev Liderança feminina: mulheres que administram empresas falam sobre desafios de ocupar altos cargos corporativos
Em comemoração ao Dia da Mulher, celebrado em 8 de março, profissionais opinam sobre preconceito e diferenciais da gestão feminina em relação à masculina
Que a pandemia de Covid-19 mudou o mercado de trabalho completamente é um fato. Mas você sabia que, entre home office e reuniões online, ela também trouxe mais oportunidades para mulheres ocuparem cargos de liderança?
Com a chegada do coronavírus, no fim de 2019, organizações do mundo todo precisaram adotar práticas de trabalho mais flexíveis e inclusivas, tendo como foco as necessidades dos funcionários. Isso fez com que elas abrissem portas para mais mulheres em cargos seniores. É o que indica a pesquisa Women in Business de 2022, realizada pela empresa de auditoria Grant Thornton (leia mais abaixo).
Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, duas profissionais que administram empresas no interior do estado de São Paulo falam sobre os desafios de ocupar altos cargos corporativos e os diferenciais da liderança feminina em relação à masculina.
‘O meu lugar é onde eu quero estar’
A administradora Jéssica Dias ocupa a função de diretora operacional da QuallyCred, uma empresa de Tatuí (SP) que faz antecipação de recebíveis. Ela é um exemplo de mulher que, após passar por diferentes setores, chegou ao cargo de gestão mais alto da corporação. Ela é formada em administração e, embora nunca tenha sofrido resistência da equipe por ser mulher, sabe que a posição vem com grandes desafios.
“Graças a Deus eu sou muito respeitada junto ao meu time e aos meus pares, que são homens em sua maioria. Tenho uma grande sorte aí. O mundo corporativo é muito agressivo, mas, como mulher, entendo que o meu lugar é onde eu quero estar, e isso faz com que eu veja tudo como uma oportunidade”, conta.
Quando chegou a QuallyCred, Jéssica fazia parte da área de cadastros da empresa, uma função menos estratégica. Com o passar dos anos, teve experiência em outras atividades, como controladoria, cobrança e operação, e foi convidada a fazer parte da gestão financeira e de recursos humanos. Até que, em 2022, chegou à gestão de todas as áreas, função que exerce ao lado do CEO da empresa.
Com 13 colaboradores, sendo oito mulheres, a securitizadora tem como foco traçar metas para que outras funcionárias também possam estar sempre em movimento e em destaque. Afinal, para a administradora, de 33 anos, elas costumam ter características valiosas para a empresa em relação aos homens. “Nós, mulheres, somos sensíveis às dores da nossa equipe e, muitas vezes, até ‘sensitivas’ na hora de tomar decisões. E, claro, somos multitarefas”, completa Jéssica.
‘Meu foco, além de ser líder, é ser uma boa líder’
Assim como Jéssica, a diretora de compras da papelaria e livraria Pedagógica, de Sorocaba, Juliana César Batista Madureira, de 36 anos, também acredita que as mulheres tenham mais “jeito” para algumas tarefas do dia a dia.
“Eu percebo que o homem é mais objetivo, enquanto a mulher já pensa como vai fazer algo e de que forma. No momento da venda, na maioria das vezes, ela tem mais criatividade para convencer o cliente de consumir determinado produto”, opina.
É justamente por isso que, dos 75 funcionários da empresa, cerca de 80% são mulheres hoje – incluindo a líder, que, para poder cuidar dos negócios da família, trocou o sonho de cursar medicina veterinária pela administração de empresas.
“Sempre gostei muito de animais e planejava seguir algo nesse sentido, mas foram passando os anos, e, desde pequena, eu sempre participei das atividades da loja, o que me deixou cada vez mais engajada. Então, eu fui automaticamente seguindo a sucessão e deixando a medicina veterinária em segundo plano. Sei que nunca é tarde e que um dia ainda posso fazer um curso especializado, mas hoje eu gosto do que eu faço, da decisão que eu tomei”, explica.
Uma vez dentro da livraria, Juliana procurou se aperfeiçoar, tendo como espelho outras lojas e mulheres de sucesso, para melhorar cada vez mais, implementar mudanças e atualizações, seguir no mercado e, por fim, chegar ao cargo de diretora da empresa.
“Para ser líder, eu entendo que preciso saber do processo, do resultado, dos erros e acertos que acontecem no meio do caminho. Só assim consigo passar uma atividade. Hoje, eu posso considerar que entendo de praticamente 99,9% dos processos da empresa.”
“Não é uma coisa simples, que a gente consegue da noite para o dia, mas eu sei que, com trabalho árduo e muita dedicação, a gente consegue alcançar os nossos objetivos. O meu foco, além de ser líder, é ser uma boa líder. Eu sempre procurei exigir do meu colaborador uma coisa que eu sei como vai ser o processo, quanto tempo vai demorar e qual a probabilidade de erros para preveni-los”, continua.
Para Juliana, ocupar uma posição de liderança foi difícil no início, especialmente em função do preconceito por ser mulher – o que, na visão dela, diminuiu bastante, mas ainda precisa ser combatido.
“Eu não tinha experiência para poder delegar, então esse processo de saber como pedir foi bem difícil. Às vezes eu tinha que impor algumas coisas e a pessoa percebia a falta de experiência e se aproveitava disso ou não levava a sério, mas hoje eu acredito que sou muito mais assertiva em algumas decisões. Ainda há, sim, um certo preconceito com mulheres líderes, mas isso já é muito mais natural do que antigamente”, finaliza.
Mulheres no topo
O relatório Women in Business 2022 apontou que, hoje em dia, as mulheres ocupam 32% dos principais cargos de liderança, incluindo funções de diretora executiva, administrativa, financeira, de informações, de operações, de marketing e de recursos humanos. Em 2021, o percentual era de 31%.
No Brasil, as mulheres perderam 1% dos postos executivos nas empresas de médio porte, caindo de 39% em 2021 para 38% em 2022. Mesmo assim, das mais de 250 companhias brasileiras pesquisadas, apenas 6% afirmaram não ter nenhuma mulher em cargos de liderança.
Em relação às posições, o levantamento mostra que 35% dos postos de presidente executivo (CEO) no Brasil são ocupados por mulheres e, no caso de liderança financeira (CFO), são 47%. Já os cargos de liderança de operações (COO) e sócia aparecem com 28% e 4%, respectivamente.