Ações repetitivas e mania de limpeza são algumas das características do Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC

12 jul Ações repetitivas e mania de limpeza são algumas das características do Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC

Professor universitário que convive com a doença há 20 anos relata como descobriu a enfermidade: “Achava que ninguém percebia”

Acender e apagar a luz diversas vezes antes de dormir, verificar várias vezes se a porta está realmente fechada ou lavar as mãos repetidamente até sentir que ela está realmente limpa. Não é raro encontrarmos pessoas que realizam estas entre outras ações repetidamente, sem levar em consideração que estes podem ser um sinal de Transtorno Obsessivo Compulsivo, o TOC.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o TOC afeta 5% da população mundial e, no Brasil, 4,5 milhões de pessoas convivem com os sintomas. Os números são altos, mas pior ainda são as consequências do transtorno na vida de quem precisa lidar diariamente com o problema.

Recentemente, o astro do futebol inglês, David Beckham, revelou em um documentário que também sobre com estes hábitos repetitivos, ocasionados pelo TOC. Ele contou que depois que toda a família dorme, passa a focar na limpeza da casa de forma compulsiva. Além dele, aqui no Brasil, até o rei Roberto Carlos sofre com o transtorno.

Eric Barioni, professor universitário de Sorocaba (SP), doutor em biomedicina e perito em toxicologia, foi diagnosticado com a doença aos 24 anos. Ele percebeu que alguma coisa não estava bem consigo mesmo quando, parado em um semáforo, observou que uma pessoa fazia repetidamente os mesmos movimentos que ele tinha o hábito de fazer, achando que ninguém percebia.

“Irracionalmente, pessoas com TOC acreditam que pensamentos aleatórios, intrusivos e ruins podem modificar imediatamente a realidade que elas vivem. Isso gera muita ansiedade e as compulsões surgem da necessidade de se livrar dessas obsessões”, afirma o professor.

O TOC surgiu na vida do professor na infância, após sua mãe sofrer com uma intoxicação alimentar grave. “Fiquei muito assustado com a situação e sinto que foi ali que a doença começou. Passei a achar que estava doente, sem nenhuma explicação e passei a ter convulsões buscando esquecer os pensamentos sobre morte e supostas doenças”, relembra.

Transtorno Obsessivo Compulsivo é um distúrbio psiquiátrico que possui como principal característica a presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões, incontroláveis. Para fugir desses pensamentos, a pessoa começa a realizar ações compulsórias, rígidas e pré-estabelecidas, que a ajudam a aliviar a ansiedade. No geral, estas ações são associadas à limpeza e higiene, checagem ou conferência, contagem, organização, entre outras.

Para o professor universitário, com certeza, o TOC não é algo bom, mas ele tem uma visão otimista do que vivenciou. “Pessoas com TOC precisam ser tratadas, mas as minhas obsessões me ajudaram a evoluir como ser humano e educador. Geraram muito sofrimento, sim, mas me levaram por caminhos que certamente eu não iria trilhar, se a doença não existisse em mim”.

E essa influência do transtorno na vida de Eric começa no momento em que precisa tomar uma decisão importante na carreira. “Tudo começou com a escolha de estudar biomedicina. Eu busquei nessa profissão encontrar respostas e racionalidade. Eu não estou curado, mas deparei com um caminho de descobertas durante minha formação. A ciência e o pensamento científico me ajudaram muito”, relata.

Do TOC ao livro

Barioni hoje vive com suporte médico, psicológico e passou por diversas terapias para compreender a doença e não deixar que ela o prejudicasse mais ainda. O educador faz tratamento com medicamentos específicos para o transtorno e também para ansiedade.

“Ainda tenho TOC, mas hoje tenho mais clareza para tratar desses assuntos. Sou muito seguro sobre os meus conhecimentos da doença e consegui com que ela se moldasse, para que não fosse tão aparente como na época da adolescência”, comenta.

Ele conta que usou o papel como educador para transmitir essa experiência de vida, mostrando para as pessoas que convivem com a doença que isso não é um impeditivo para atingir seus objetivos e sonhos. O resultado disso foi o livro “É Tique ou TOC”, lançado em 2022.

O objetivo é levar clareza a quem sofre do transtorno e também para ajudar as famílias que convivem com pessoas com TOC. A publicação parte de um relato sobre a sua história, levantando ainda questões sobre como diferenciar o TOC de outros transtornos, como os tiques e as manias, para que mais pessoas saibam como procurar ajuda.

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